Alexandre Pais criou uma grande polémica, com a crónica publicada no passado sábado, 1 de abril, no jornal Correio da Manhã. Entretanto, o ex-jornalista, de 77 anos, confirmou que não era nenhuma mentirinha de primeiro de abril, ao reiterar, mais tarde, a sua posição. O ex-jornalista defendeu o seu direito de humilhar Cristina Ferreira e Maria Botelho Moniz, por estas não responderem aos padrões físicos que ele espera das mulheres em televisão.
Rapidamente se multiplicaram as críticas e os comentários. Como sempre assertivo, o jornalista Luís Osório deixou a poeira baixar um pouco, refletiu mais sobre o tema e apresenta agora a sua posição sobre o texto que classifica como “maldoso e misógino”. Na opinião do famoso jornalista, no seu ‘Postal do Dia’, Alexandre Pais escreveu aquilo que muitos pensam. Afinal, diariamente há programas e espaços mediáticos apenas sobre “as roupas, sobre a forma física, sobre as operações, sobre a barriguinha saliente”. E é ao “vender” essa perfeição que se caminha para opiniões como estas de Alexandre Pais, sobre as quais Luís Osório espera mais discussão do que apenas “bater no careca”.
Um texto, uma vez mais, muito necessário, que pode ler aqui:
“A flácida Cristina Ferreira e a gorda Maria Botelho Moniz
1.
Alexandre Pais escreveu uma crónica no Correio da Manhã que intitulou “A imagem é tudo”.
No texto, publicado no dia das mentiras, fez várias considerações sobre o profissionalismo de apresentadoras de televisão e ofereceu alguns conselhos a Maria Botelho Moniz, pivot de entretenimento da TVI.
Entre as várias pérolas destaco esta frase:
“A Maria Botelho Moniz, mulher simpática mas robusta, com tendência para aumentar de peso e raramente usando roupa adequada às suas características, devia concentrar-se nesse problema de resolução difícil. Isso exige, disciplina e capacidade de sacrifício, muito sacrifício…”
Sobre Cristina Ferreira escreveu que à diretora de programas da TVI se notava nos braços a flacidez do tempo e a falta de ginásio.
2.
Cristina Ferreira ameaçou o colunista com um processo.
E um pouco por todo o lado o autor deste miserável texto tem levado porrada, o que é mais do que justo. Os seus argumentos são abjetos, mas a sua maldade é ainda maior. Merece por isso todas as críticas.
Ainda assim quero sublinhar três coisas que, sendo óbvias, não têm sido referidas.
A primeira tem a ver com Alexandre Pais.
Muitos têm perguntado quem é Alexandre Pais.
Uma pergunta ignorante e que esvazia o essencial – como se qualquer argumento por ser dado por alguém que não conhecemos possa ser desvalorizado por isso.
Vemos arautos da dignidade humana, mas que depois se revelam tão inclementes nos seus argumentos como as pessoas a quem criticam.
Já agora, Alexandre Pais é uma figura com algum relevo e alguma história. Não é um anónimo. Dirigiu o Record, o 24 Horas e o Tal e Qual, foi influente no chamado jornalismo cor-de-rosa e é um dos comentadores do império da Cofina.
É um jornalista que tem a sua história.
3.
A segunda nota tem com a resposta que deu a todos os que o criticaram.
Nessa nota de imprensa não pediu desculpa por ser pornograficamente misógino, não pediu desculpa por ter tratado as mulheres como carne para canhão – porque ao falar assim do corpo das mulheres, sem nunca referir os homens apresentadores, está a sublinhar o quanto uns e outros têm papéis diferentes.
Os homens apresentadores podem ser gordos e não ir ao ginásio, mas as mulheres apresentadoras têm de estar num brinquinho porque senão têm um par de patins à sua espera.
Alexandre Pais não pediu desculpa por nada disto. Reiterou isso sim que não tem medo de ninguém.
Nada mais a dizer sobre a figura de um cronista que, é bom que não sejamos ingénuos, escreve em função de uma agenda maior do que ele.
4.
A terceira nota é sobre a hipocrisia.
Porque aquilo que Alexandre Pais escreveu é aquilo que verdadeiramente o mercado pensa sobre as apresentadoras de televisão.
Ou sobre as estrelas das novelas.
Ou sobre as influencers.
Ou sobre quem aparece nas revistas.
Todos os canais de televisão têm programas que dedicam horas por semana a falar sobre as roupas, sobre a forma física, sobre as operações, sobre a barriguinha saliente.
Vendemos todos os dias a magreza.
Vendemos todos os dias novas atrizes e novos atores cujo talento é serem magros e desejáveis, produtos que podemos consumir até serem substituídos por outros.
E muitas das figuras que criticaram Alexandre Pais são as mesmas que alimentam este star system da treta.
Que o tema seja o princípio de uma boa discussão. Mas que pensemos fora da caixa e fora do óbvio.
Dá vontade de bater no “careca”, mas talvez o problema seja mais fundo.
Talvez valha a pena olhar em volta.
Porque se não o fizermos talvez chegue mesmo o dia em que Maria Botelho Moniz terá de dar o lugar a uma outra apresentadora mais magra, mais jovem ou mais qualquer outra coisa que exigimos às mulheres e não aos homens.
Alexandre Pais é maldoso e misógino.
Mas o mundo mediático não lhe fica atrás.
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